quarta-feira, 7 de abril de 2010

Ódio, muito ódio

Liguei pra Juliana, que é vizinha e pedi socorro. Joguei fora o que já tava aberto e meti o que ainda tava fechado em duas mega ecobags. Ela ainda tava na repartição, mas como eu tenho a chave do Rajazinho, calcei as galochas e fui. Como sou obcecada por bem receber, minha geladeira sempre tem muitos víveres, ainda que eu não os coma. As visitas podem querer, sabe? Pois é, entulhei a geladeira da Ju.

Voltei pra casa sentindo todo ódio e raiva do mundo, especialmente da Consul, da Light, dos que têm geladeira funcionando e dos que não têm e são tão cornos quanto eu. Tá, eu odeio o mundo e não é errado ser assim. Só não odeio a Ju que acolheu meus víveres. Vim andando chorando na chuva, com as bolsas vazias no ombro, sem abrir o guarda-chuva.

Raramente eu perco a calma, sou controladíssima. É muito difícil eu realmente dar um chilique ou ser indelicada com alguém. Posso estar fervendo de ódio que me seguro, porque sei que ninguém tem nada com meus problemas ou com a minha vida. Sempre me orgulhei de manter a compostura em situações limite. Pois é, aí que tá. Quando eu estou realmente puta, quando estou realmente com raiva e decido que "hoje eu me permito"... aí eu não quero me acalmar, não quero melhorar, não quero esquecer. Aí eu quero ficar cada vez mais puta para explodir. Hoje foi um dia desses.

Tô passando na esquina da Gomes Freire com Relação, ensopada e tiritando de ódio e um palhaço parado na rua sorri pra mim e manda "tá chorando por que, menina linda?". Normalmente eu responderia "Obrigada pelo menina e pelo linda, xuxu" e iria embora rindo, mas não hoje. Olhei pro bruto com todo ódio que tava sentindo e respondi "Minha geladeira queimou", mas disse isso com tanta raiva que ele deve ter ficado com medo de virar estátua de sal e não falou mais nada.

Arrumei a casa, respondi uns e-mails com grosserias gratuitas, fiz o primeiro post e a Ju ligou. Desci pra encontrá-la. Propus assarmos o que sobrou dos congelados, pra ver se ainda prestavam, e fazer uma orgia de sódio e gordura, mas ela mandou a contraproposta irrecusável. "Não quer comer um pastel?". Claro que quero. Fomos pro Adão partilhar nosso péssimo humor e nos regozijarmos de termos uma a outra para este momento. Minha vida seria muito pior se ela não tivesse ali. Acho que teria sentado no chão e chorado até dormir e deixado toda a porcaria podre pra faxineira tirar amanhã.

Bom, a verdade é que três pastéis e três chopes depois meu estômago tá muito pior, mas eu tô muito melhor.

2 comentários:

Morango sem chantilly disse...

Amiga, sei que a história é triste. Mas você escreve tão bem e tem um humor tão peculiar que estou rindo agora.

roberta carvalho disse...

Morango, é pra rir mesmo, melhor rir que chorar.