sexta-feira, 14 de novembro de 2008

A vida é bela

A vida é bela

Hoje foi uma manhã pior que as outras. Estava chovendo. Na minha casa, apenas chuviscava e nem abri meu guarda-chuvas vermelho novo. Quando o ônibus chegou no ponto desgraçado onde desço chovia bem. Quando ele parou havia enormes poças e tive que pisar na água pra descer do ônibus. Como a via está em obras, os ônibus estão parando longe da passarela e no meio da via. O trânsito fica péssimo. Acrescente que há uma outra obra no caminho, onde diariamente pego engarrafamento. Desci na poça e, levantando a calça para não molhar, caminhei até a "calçada". Na verdade é um meio-fio e pedra e lama, muita lama com pedras no meio, pra vc poder dar uma boa topada ou cair. Desviando de todo tipo de gente feia e esquisita e de barraquinhas onde eram vendidos todo tipo de comida nojenta e gordurenta, alcancei a passarela. Lama, muita lama. Fiquei com receio de escorregar e cair. A passarela também estava enlameada, mas pelo menos com a chuva não havia vendedores de lixo nela, havia apenas na subida. Como não dá pra atravessar a passarela com guarda-chuva, porque o vento leva, nem abri a porra do guarda-chuva, ele é bonito demais pra ver aquela desgraceira deprimente. Sempre tem alguém sem noção empatando o caminho. Na descida o característico odor de mijo com fritura das barraquinhas. Hoje não havia policiais. Passei na portaria da repartição. Agora os seguranças inventaram um curral com uma corrente de plástico amarela e preta que te obriga a andar muito mais pra atravessar. Eles sempre dão preferência aos carros no lugar dos pedestres, nos tratam como se fossemos meros incomodos aos carros. Atravessei na puta-que-o-pariu e segui. Quadno comecei a subir a ladeira de pedras irregulares que leva ao prédio triste e sujo onde trabalho vi que o barranco ao lado tá se desmanchando por causa da chuva. O barro avermelhado já cobre a calçada em frente e as raízes das árvores estão expostas. Com sorte, o prédio desaba e eu fico uns dias em casa. Entrei e meu chefe disse "bom dia". Ele sempre é simpático e educado. Proferi um "Olá" e sentei. Liguei o computador e saí da sala batendo a porta. Fui ao banheiro tirar a lama do sapato. Bati a porta do banheiro e sentei sobre o vaso sanitário, com muita raiva. Limpei meu lindo sapato preto e prata, lavei as mãos e voltei pra sala. Loguei o computador e respirei fundo. Peguei meu copo de plástico laranja e fui pegar água. O bebedouro fica ao lado da mesa do chefe. Ele, sorridente, disse "e aí?". Respondi entre-dentes "e aí?". Voltei à minha mesa. Um dos meninos meus vizinhos me avisou que havia café. Fui pegar café e tava ótimo, bem forte. O outro me mostrou um vídeo do vira-latas que ele adotou brincando com o labrador que já era da família. Não pude conter o sorriso. Ele começou a falar dos cães e do filho de quatro anos que tá com febre. O outro vizinho me perguntou sobre meu aparelho, pois ele também usa. Conversando com eles meu humor melhorou. Meu chefe me chamou pra me mostrar um esquema desenhado no quadro branco. Era a "programação" de uma palestra que vamos proferir daqui a duas semanas em um seminário. Vai toda a equipe e todos falam, mas só temos 20 minutos. Ele levou 10 pra me explicar o esquema. Acho que vamos levar duas horas pra fazer a apresentação nos revesando no palco. Adoro me apresentar, adoro palquinho! Chegou a outra cálega jornalista e ele recomeçou a explicação. Concluímos que precisamos de pelo menos uma hora pra apresentar todos os nossos projetos. Peguei mais café. Sabe que já tô até bem humorada? Rimos e fizemos piadas. Fui pra minha mesa ler os e-mails e trabalhar no tal projeto. Agora já passa de meio-dia, já suporto tudo. Adoro meu trabalho, mas odeio o local onde trabalho, vocês entendem?

Bom, no fim das contas, a vida é bela. Hoje é sexta-feira. Vou ao cinema e depois a uma festa. Vou tomar cerveja e brincar com meus amigos. Sou uma mulher de sorte.

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